Eu preciso ser sincero com vocês. Correr é uma m*rda.
Agora, antes de começar a explicar o motivo desse título levemente apelativo, deixa eu criar o cenário na sua cabeça.
Agora é sábado de manhã e nesse exato momento eu estou deitado no meu sofá com o celular na minha mão, lutando contra a procrastinação de escrever esse texto para vocês.
Tudo parece extremamente importante e urgente quando queremos procrastinar em algo. Minha mente está o tempo todo tentando fugir desse compromisso, porque sabe que vai exigir um pouquinho de esforço.
E isso é até engraçado, parece que minha mente tem memória de peixe. Ela esquece completamente que toda semana, no momento que eu finalizo a carta para vocês, uma grande euforia bate no meu coração e todo o esforço é compensado.
E isso não é só com a escrita, acontece a mesma coisa com o esporte, por exemplo. Nós sabemos que no momento que finalizarmos o treino ou o aeróbico, tudo vai ter valido a pena. Não só fisicamente falando, mas aquele sentimento de dever cumprido mesmo, sabe?
Mas mesmo assim, todos os dias, nossa mente luta contra qualquer esforço extra que precisamos fazer, e isso é normal. Nosso cérebro nada mais é do que um grande economista de energia. Ele analisa - cautelosamente - tudo que precisamos fazer e verifica se temos energia suficiente para isso e se não é arriscado gastar essa energia extra por agora.
Por isso, todas as vezes que vamos praticar algum esporte, nosso cérebro recebe um e-mail pedindo orçamento, ele lembra dos gastos, faz as contas, coloca na planilha, bate com o fluxo de caixa, e manda um e-mail de volta pro corpo falando: “melhor ficar em casa.” E vai ser sempre assim.
Mas assim como precisamos pressionar o financeiro da empresa para liberar aquela campanha de marketing que ele não aprova porque acha que é gasto desnecessário mas nós sabemos que não, o mesmo precisamos fazer com nosso cérebro e mostrar que esse gasto vai trazer lucro positivo!
Às vezes ele vai negar, lutar contra, colocar prioridades na frente, mas até virar um hábito, precisamos fazer cara feia, levantar a cabeça, bater a porta e sair pra academia.
E agora que vocês entenderam um pouco do cenário, vamos abrir o jogo do porque correr é sim uma merda. O esportezinho ingrato…
No mês de dezembro eu acabei viajando para minha cidade para passar o natal e ano novo com minha família e dia 07 de janeiro tínhamos nossa viagem programada pra praia.
Nesse período todo, do dia 20/12 ao dia 14/01, eu confesso que o influenciador fitness e coach de alta performance que eu simulo e vocês vêem no Instagram não passou de um belíssimo preguiçoso.
Foram 25 dias de pernas pro alto, comendo tudo que eu queria e “aproveitando a vida” no estilo aposentado. O maior esforço físico dessas férias foi o futebol de família antes do natal e olhe lá. Nem sei se aquilo poderia ter sido considerado um esforço né… competir com tios 40+ é mais fácil que roubar doce de criança.
(Mentira, foi uma baita competição, mas eu precisava falar, porque eu sei que eles vão ler essa carta e vão ficar pistola com isso kkkkkkk)
Voltando ao texto. Nessas férias eu larguei mão dessa vida mais regrada e disciplinada que eu vivo aqui em São Paulo.
E eu poderia falar que arrependo, principalmente quando voltei com os treinos de corrida, mas não arrependo não. Às vezes precisamos rever nossas prioridades e adapta-las ao momento que estamos vivendo.
E essas escolhas, como tudo na vida, tem suas consequências. E uma delas eu senti exatamente hoje em um treino leve, numa pista plana, sem fazer muito esforço físico.
Terminei a corrida, meu coração tava na boca, a tontura bateu no corpo, precisei sentar e respirar e só passou depois que tomei meu Gatorade gelado (não é publi, mas podia ser…)
O esporte ingrato! Treinei o ano inteiro, melhorei meu pace, minha distância, tava no meu best shape, e agora pareço um corredor iniciante. E como é difícil ser iniciante em algo…
Muitas vezes nos acomodamos na vida, vivemos uma rotina praticamente automática, fazendo as mesmas coisas quase todos os dias.
E aí você é convidado para fazer algo que nunca fez e decide aceitar. Quando chega lá você percebe que é ruim naquilo, esquece que é a sua primeira vez, se cobra por não estar indo bem e, por não aguentar se expor um pouco ao “ridículo”, logo desiste e fala que aquilo não é para você.
Precisamos sempre nos lembrar quando começarmos algo novo que não vai ser fácil como esperamos. Você não nasceu caminhando, muito menos correndo. Você caiu quando tentou pela primeira vez, bateu sua cabeça no chão, se ralou tropeçando no vento, até que um dia você aprendeu a andar e hoje você nem lembra qual era a sensação.
O mesmo acontece para todas as coisas da vida. Te garanto que ninguém da sua família estava entendendo quando você pronunciou suas primeiras palavras, o sorriso na cara deles e a cabeça balançando, não era sinal de entendimento, eles só estavam fingindo porque era fofo te ver tentando.
Muitas vezes perdemos coisas incríveis na vida por medo de sermos expostos ao ridículo. Por medo do que vão pensar de nós. Por medo de comentarem que aquele vídeo que postamos ficou ruim.
E posso ser sincero, você não é tão importante assim. Dói né? Mas é verdade. Sua vida não é um reality show para todo mundo. E nem a minha vida ou a vida de qualquer pessoa “comum”.
Nós achamos que é porque estamos vivendo dentro dela, mas a realidade é que seu amigo vai ver o vídeo, vai possivelmente achar ruim a introdução, vai ter preguiça de terminar, vai passar pro próximo, e logo em seguida esquecer.
E se você aceitar o desafio de ficar bom naquilo você vai postar de novo, de novo, de novo e mais uma vez, e quando você menos perceber você aprendeu a andar, a correr, a falar, a gravar, e aquele iniciante de um tempo atrás nem sequer passa como memória na sua cabeça.
Você vai rever os vídeos antigos, dar boas risadas e falar “como eu tive coragem de postar isso?”. E isso não vale só para postar conteúdo. Vale para corrida. Vale pro academia. Vale pro seu emprego novo. Para seu novo empreendimento. Para literalmente qualquer coisa na vida.
E afinal, o que tudo isso que eu falei tem haver com o título do e-mail? Talvez nada, talvez tudo... Eu só precisava chamar sua atenção para te lembrar que muitas vezes perdemos algo bom por medo de parecermos iniciantes. Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?
Correr é incrível. Viver é incrível. Se exponha mais ao ridículo. Quando menos esperar você ficou bom naquilo.
Espero ter te incentivado a começar. Se essa carta te ajudou de alguma forma, se inscreva na minha newsletter. Vai ser legal saber que te ajudei de alguma forma ;)
Nos vemos na próxima segunda às 5 a.m.
Grande abraço,
Túlio Herani.
Muito bom. Iniciei a natacao a 3 semanas e era o que precisava ler.
Perfeito. No meu caso atual é que eu voltei a ser estudante ao querer prestar concurso. Era muito mais fácil na escola ou na faculdade.