Quando foi a última vez que você se sentiu realmente entediado?
Essa semana resolvi retomar minha leitura da onde parei no livro Essencialismo, e posso te falar? Era exatamente o que eu estava precisando.
Nessa última quarta-feira, voltando de férias, tinha um exame marcado no hospital e decidi fazer algo que não fazia há um tempinho: sair com um livro para ler enquanto aguardava o exame para evitar ser consumido pelo vício do celular.
Adiantei meu check-in de forma on-line para não perder muito tempo, peguei minha senha quando cheguei na BP, e fui tranquilamente buscar uma cadeira próxima de algum lugar mais iluminado para começar minha leitura.
Tirei meu livro da mochila e um marca texto de gel amarelo (não consigo ficar sem) e logo comecei a ler. A leitura estava fluindo, aquele sentimento de entusiasmo quando lemos algo que faz sentido com o que estamos vivendo começou a subir, estava passando página por página e quando me deparei já tinha lido tranquilamente por 1 hora sem nem perceber.
Dei uma pausa para respirar e processar tudo aquilo e quando retomei cai de cara com essa pergunta: “Quando foi a última vez que você se sentiu entediado?”.
O capítulo todo falava de como, nos tempos atuais, estamos desacostumados a sentir tédio. E, se formos parar para pensar de verdade, nos acostumamos a viver uma vida tão acelerada e ocupada que realmente não temos mais tempo para sentir tédio.
Não conseguimos mais encher uma garrafa de água no bebedouro sem desbloquear a tela do celular. Comer e apreciar a comida passou a ser algo extremamente cansativo e desestimulante que precisamos de alguma forma fazer algo para nos ocupar.
Pulamos de atividade para atividade sem pausar e quando temos qualquer momento mais livre, somos tomados pelo sentimento de improdutividade e logo em seguida dominados por duas opções:
Procurar outra atividade para nos sentirmos mais produtivos e menos culpados;
Tirar nosso celular do bolso e começar a mexer para que o tempo passe mais rápido.
Quando foi que a vida passou a ser cansativa?
Quando foi que olhar para uma parede branca por alguns minutos sem fazer nada começou a nos causar ansiedade?
Essa busca contínua por distração tem matado nossa geração.
Se pararmos para refletir, parece que a cada ano o tempo passa mais rápido. Parece que o Túlio de 2018 vivia tranquilamente com 24h por dia e o Túlio de 2024 precisava ter pelo menos 36h para terminar tudo que tinha para fazer.
Parece que o tempo está voando e nossa vida está escorrendo por nossas mãos. Mas a grande realidade é que não é o tempo que está voando, somos nós que estamos passando despercebidos pela vida por estarmos distraídos demais com coisas inúteis.
Lembro bem quando ia ao dentista na minha infância e via do lado de cada um dos sofás de couro preto daquele consultório uma pilha de revista. As pessoas aguardando ser atendidas abriam as revistas, folheavam e quando estavam cansadas simplesmente paravam e admiravam o ambiente, os quadros, as paredes, o movimento, enquanto refletiam sobre suas vidas.
Muitas vezes podia ser entediante. Muitas vezes queríamos ser atendidos logo, mas felizmente não havia outra opção.
Nesses últimos meses para cá, tenho sentido tanta falta de viver o mundo. De caminhar sem fone. De ouvir a poluição sonora dos pássaros. De sentir o sol queimando na pele. De sentir o cheiro da terra molhada avisando que vem chuva. De viver a vida como vivíamos antigamente.
Distraído como estive nos últimos anos, o tempo passou e eu nem percebi. Comecei novos negócios, busquei me ocupar pelo maior tempo possível, e no primeiro momento de pausa que tive em meses percebi que estava fazendo tudo errado.
E essa carta que estou escrevendo é para te lembrar que o tempo passa e não volta mais. O tempo é uma das únicas coisas desse mundo que não pode ser comprada. Enquanto você lê essa carta, esse tempo que passou passou e não volta mais. Mas o tempo que você tem a partir do momento que terminar, esse sim você ainda tem controle sobre.
A vida passa depressa e quando pararmos para perceber, pode ser tarde demais.
Retome o controle da sua vida. Descanse quando sentir cansado. Tire mais tempo para fazer absolutamente nada. Leia mais. Sinta mais medo. Sinta mais as emoções. Reflita. O virtual é só ilusão, sua vida está fora dessa telinha. Viva a vida real, o tédio as vezes faz bem.
Espero de alguma forma ter feito você refletir. Se ainda não conhecia minhas cartas semanais, quero deixar um convite para fazer parte desse movimento! É só clicar no botão abaixo e deixar seu e-mail ;)
Nos vemos na próxima segunda às 5 a.m.
Abraços,
Túlio Herani
Ótima reflexão. Não há um dia que eu não pense sobre como o nosso tempo tem sido drenado por distrações, escasseado por excesso de conteúdo (este termo que serve para tudo e acaba não querendo dizer nada). Parece que estamos desesperados por consumir. Perseguimos qualquer coisa que possa manter a mente ocupada. Ou melhor: entorpecida. Não podemos esquecer que as boas ideias brotam do ócio, do tédio. O ambiente virtual deveria ser usado para coisas realmente significativas, como ler bons textos — o seu, por exemplo.
Seguindo essa ideia, escolhi alguns livros leves, de leitura fácil, só pra passar o tempo e deu muito certo. Ótimo texto!